[45° Mostra SP] Madeira e água (Wood and Water)

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Madeira e água (Wood and Water), Alemanha, França, Hong Kong, 2021, 79 min. Direção e roteiro de Jonas Bak.
Exibido na seção Perspectivas do Cinema Alemão do Festival de Berlim.

Visto durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo durante a Competição de Novos Diretores

Sinopse

Após se aposentar do trabalho na igreja de sua cidadezinha, na Floresta Negra, Anke está ansiosa para rever os filhos durante as férias de verão no mar Báltico. Porém, no último minuto, Max, um de seus filhos, não consegue se juntar à família por causa dos protestos que tomam conta de Hong Kong, onde vive. Sem vê-lo há muitos anos, e depois de um verão um pouco tedioso, Anke decide visitá-lo. Ela passa os primeiros dias sozinha em território estrangeiro, esperando Max voltar de uma viagem de negócios. Tomada por protestos, Hong Kong é para Anke um enigmático novo mundo por onde ela se move com cuidado, mas também representa uma aventura, uma escapatória.

Crítica de “Pegando a Estrada”

“Madeira e Água” é um daqueles filmes em que você fica feliz de achar, com cara e forma de filme de festival, esta produção intimista consegue expor em atuações minimalistas as grandes reviravoltas da vida e que não tem idade para acontecer.

Após se aposentar da igreja em que ajuda, Anke sai de sua cidadezinha interiorana Alemã para as praias afim de passar um tempo com filhos que já são adultos, mas um deles, porém, não consegue se juntar a família pois mora em Hong Kong e está acontecendo as manifestações (2019-2020). Aqui faço um paralelo entre as manifestações honconguesa e a manifestação interior que começa a acontecer dentro de Anke. Entre conversas com suas filhas que começam a falar sobre se mudarem também de país, Anke fecha a porta de casa como se impedindo que algo invada o seu particular ao mesmo tempo que mantendo o sistema como está; assim como o início dos protestos foi contra a Lei de Extradição que permitiria que a China Continental tivesse maior influência jurídica dentro de Hong Kong e incluindo julgamentos injustos.

Anke então retorna a sua casa depois dessa viagem a praia com as filhas, novamente em uma rotina, mas com o exterior sendo mostrado de forma intensa com cores fortes e chamativas nas árvores, como se tivessem a obrigando a sair de dentro de casa. Até que em uma ligação ela aceita o convite de ir até a China ver o filho e ficar em seu apartamento. Historicamente falando, os aeroportos foram fechados quando as manifestações ficaram mais violentas, agora com outras pautas como a violência policial no meio, enquanto mais pessoas e regiões se juntavam a revolução que estava acontecendo, Anke estava indo em direção da viagem que viria a ser a revolução que ela precisava em sua vida.

Em uma transição sutil, passamos de um túnel na Alemanha para um túnel em Hong Kong vendo a diferença inicialmente pelas luzes que se tornaram mais sintéticas e o som mais grave, que contrata bem com a luz natural e amarelada da cidadezinha de Anke e do som proveniente da floresta negra que fica atrás de sua casa. Prédios altos comem as árvores e os céus, Anke chega de noite e não consegue entrar no apartamento sendo assim, obrigada a dormir em um hostel de quarto dividido, lá, entre sombras ela consegue uma cama com luz iluminada pelo telão do lado de fora e tem sua primeira conversa sincera com uma outra hóspede que lhe diz que ela vai conseguir ver a beleza da cidade por trás da loucura. E de fato, conforme a mudança vai acontecendo o design do filme vai mudando sutilmente até seu último instante quando a luz natural volta a tomar conta de tudo e Anke do seu primeiro sorriso.

“Madeira e Água” é um filme de aquecer o coração, feito para aqueles que amam o cinema em seus mínimos detalhes. O uso das manifestações, seja de forma comentada ou vista em sua imensidão, dialogam muito bem com o roteiro e foi uma feliz escolha, pois, atos assim não acontecem do dia para a noite. O maior mérito do filme é não tentar transformar a personagem de Anke em uma White Savior ou cair no clichê da pessoa branca perdida em uma cidade “exótica”, pelo contrário, a personagem aceita os desafios impostos e vai contra essas predefinições explorando a cidade e entrando na sociedade.

Um belo filme que não pode deixar de ser visto.

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Mais informações sobre a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Carateca, amante de cinema, revisora e tradutora de inglês e italiano. Amo como minha profissão me conecta aos meus hobbies e com o FilmeSP conecto as pessoas aos festivais de cinema que acontecem em SP mas que são dificilmente divulgados.
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