O garoto mais bonito do mundo (The most beautiful boy in the world), Documentário, Suécia, 2021, 94 min. Com direção de Kristina Lindström e Kristian Petri, montagem de Hanna Lejonqvist e Dino Jonsäter e fotografia de Erik Vallsten.
Filme exibido no Festival de Sundance.
Visto durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo durante a Perspectiva Internacional
Sinopse
Cinquenta anos após a estreia de Morte em Veneza, Björn Andrésen, a antiga estrela adolescente que interpretou o lendário personagem Tadzio na obra-prima de Luchino Visconti, nos conduz em uma jornada em que memórias pessoais, história do cinema, sucesso e tragédias se confundem, nesta que talvez seja a última tentativa de Björn de finalmente colocar a sua vida de volta nos trilhos.
Crítica de “O garoto mais bonito do mundo”
“Ande. Pare. Se vire. Sorria”
Já faz 50 anos que o filme “Morte em Veneza” do diretor Luchino Visconti foi lançado e junto com ele a fama do jovem Björn Andresen como o menino mais bonito do mundo, fama que lhe foi dada pelo diretor do filme que assim que o viu nas audições já ficou hipnotizado pelo rapaz de até então 15 anos.
Björn Andresen após todos estes anos ainda sente os efeitos psicológicos que as gravações, a fama e a sua objetificação (sexual) lhe causaram, de alcoolismo a problemas de relacionamento familiar o documentário mostra todos os lados dessa figura intrigante que foi inspiração para um dos mangá shojo mais famosos, o “Rosa de Versalhes” de Riyoko Ikeda.
Agora com 66 anos o ator Björn Andresen vive o oposto que viveu no auge da fama, correndo o risco de perder o apartamento por perigo de causar incêndio, vemos em Björn um homem que não tem mais amor-próprio. Ele vive em meio a sujeira com dieta de álcool e cigarros, sua namorada ao saber do perigo despejo começa a arrumar a casa de Björn e a partir daí começa de fato a história dele. Através de áudios de uma criança que pergunta sobre a mãe, o documentário mostra que não usará Björn somente para contar um fato determinado de época mais jovem e sim destrinchar a sua vida inteira, da vida sem os pais, o casamento que passou por uma tragédia, a vida adulta quase eremita que o ator de Midsommar leva.
Antes de ser escalado como Tadzio e ser intitulado como “O garoto mais bonito do mundo” Björn morava com sua avó, uma pessoa que segundo o documentário tinha a ambição de ter um neto famoso então sempre procurava saber onde havia audições para torná-los famosos. Vemos em filmes de arquivos o desconforto de seu neto ao ser obrigado a tirar as roupas durante a audição, mas essa é nossa visão de mundo atual, Björn mesmo disse que ela o protegia assim como Visconti o “protegeu” da equipe de filmagens os impedindo de olhar ou falar com o garoto. Björn viajou o mundo já que o filme concorreu à Palma de Ouro em Cannes, ao BAFTA e ao Oscar, em suas as viagens sempre esteve ao lado do diretor Luchino Visconti que o usava como um pequeno troféu, ao fazer 16 anos o amor de Visconte começou a diminuir e apesar de ter um contrato de 3 anos o diretor o “abandonou” para os empresários continuarem os trabalhos de divulgação, o que o levou ao Japão e um ponto importante do documentário.
O documentário então leva Björn de volta ao Japão para conversar com o produtor que o ajudou por lá, contam histórias e dão risadas, mas agora já mais velhos sabem do drama mental que Björn ao ter seu ego elevado e ser abandonado em seguida. De mangá a música interpretada em japonês pelo ator, talvez o Japão que foi o local que mais o usou, mas também tenha sido o local que o mais entendeu. O ator viaja junto com sua namorada, mas ao retornarem Björn recebe uma ligação onde ela se questiona sem medir palavras se deve continuar ou não com ele, entramos então na parte mais pessoal de Björn que tem uma filha, mas teve um filho também cuja morte ele se culpa. Sua insegurança e falta de amor-próprio são de longa data e a depressão tomou conta do ator de uma forma em que poucas pessoas sabem dizer.
O documentário tem tom pessimista que conversa muita bem com o retrato que vemos em tela, deixando em aberto algumas dúvidas sobre se houve ou não um caso de estupro de vulnerável (afinal ele era menor e estava sobre efeito de álcool), vemos que os reflexos vividos por Björn até os dias atuais são fortes. O livro “Morte em Veneza” de Thomas Mann sobre um artista que se apaixona de forma perturbadora por um adolescente pode ser visto na relação entre Björn Andresen e Luchino Visconti com muito mais clareza hoje, ainda vemos em Björn o olhar enigmático, mas agora triste. O final, com a relação de amor e ódio sobre o passado foi uma forma incrível de fechar esse que é um dos documentários mais recomendados para ser ver nesta 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
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