[44° Mostra SP] O Charlatão (Charlatan)

filmesp_O_Charlatao_44mostra_insta

“O Charlatão” é o representante da República Tcheca ao Oscar de 2021, uma cinebiografia da vida complexa e intrigante do herborista Jan Mikolasek.

Sinopse

Inspirado na história do herborista Jan Mikolasek, que dedicou a vida aos cuidados de pessoas doentes, apesar dos imensos obstáculos que enfrentou nas esferas pública e privada. Nascido na virada do século 20, Mikolasek ganha fama e fortuna usando métodos de tratamento pouco ortodoxos para curar uma ampla gama de doenças. Renomado na Tchecoslováquia antes da Segunda Guerra Mundial, o curandeiro aumenta a reputação e a riqueza durante a ocupação nazista e sob o regime comunista. Todos esses regimes, um após o outro, se beneficiam das habilidades de Mikolasek e dão proteção a ele em troca. Mas quão altos devem ser os custos para manter esse status quando as coisas mudarem?

Parte da Perspectiva Internacional, dirigido pela experiente Agnieszka Holland com Ivan Trojan, Josef Trojan, Juraj Loj e Jaroslava Pokorná no elenco.

Atenção: Contém cenas de crueldade animal

Crítica

O filme se inicia com a morte do presidente Antonín Zápotocký, que estava recebendo um tratamento a base de ervas, sua morte é o ponta pé inicial para uma mudança na estrutura política do país e uma oportunidade para aqueles que dentro do governo caçavam o herboista do qual chamavam de charlatão por não se utilizar da medicina retirando a credibilidade do Estado.

Acompanhamos a história do herborista Jan Mikolasek (Ivan Trojan) entre o seu passado como soldado na Primeira Guerra, juventude, até o seu presente onde está sendo acusado de envenenar duas pessoas com seus chás medicinais. A perseguição do governo em cima do não-médico – como ele bem gosta de deixar claro – se inicia durante a ditadura nazista quando Jan nega ajudar a filha de uma figura importante do exército alemão por não haver mais como curar sua doença com as ervas medicinais e isso leva este homem a perseguir Jan por anos, armando para que ele seja preso e condenado a morte.

Além de problemas com os governos de sua época que o chamavam de charlatão por usar ervas ao invés de medicina para ajudar aos pobres, Jan também mentia para sí mesmo negando o amor que para ele – e a sociedade em que vivia – era um ato pecaminoso. Por diversas vezes o vemos recitar a bíblia ou a rezar, se machucando ao ajoelhar em frente a uma estátua de Jesus orando em silêncio, vemos ainda em sua juventude até a fase adulta uma espécie de raiva enclausurada que consegue transparecer até mesmo nos olhares dos dois atores que o interpreta.

A diretora Agnieszka Holland opta em mostrar o filme mais como uma ficção do que biografia, incluindo cenas que beiram o fantasioso, durante as cenas de seu passado vemos uma câmera que mais fechada demonstrando a vergonha que Jan sentia dos erros cometidos, todos que o levaram a ser a pessoa reclusa que é. Seguimos a história por governos diferentes, do fascismo ao comunismo e passando pelo nazismo também, vendo a evolução deste homem mas nunca do país, como se ele visse sua própria época.

O filme também nos conta sobre o relacionamento amoroso entre Jan e seu assistente Frantisek Palko (Juraj Loj) que da uma outra dinâmica ao filme mas sem perder seu ritmo, na realidade, o romance proibido na época é mostrado com respeito de forma natural como deve ser. Ambos os atores possuem uma química extraordinário que se sustenta até o último momento deles em cena.

Em seus momentos quando jovem no exército e depois mais tarde aprendendo sobre o ofício da cura utilizando ervas medicinais, o personagem de Jan Mikolasek é interpretado por Josef Trojan – filho de Ivan Trojan – o que acaba nos passando um sentimento de continuidade e progressão real tornando o filme crível em todo seu núcleo.

A cinebiografia de Jan Mikolasek se torna, no final das contas, uma história sobre a Europa entre as Guerras. Passamos mais tempo vendo sobre a situação política do que realmente desmistificando o homem por trás da história cujo os métodos são questionáveis e o egocentrismo do personagem real faz com que o filme se torne distante de sua audiência caso procure por um filme que te impacte. Como estudo de personagem, este é um bom filme e devemos nos lembrar sempre que transcrever uma vida real inteira dentro de 2h ou menos é sempre um enorme desafio do qual, Agnieszka Holland conseguiu entregar.

Carateca, amante de cinema, revisora e tradutora de inglês e italiano. Amo como minha profissão me conecta aos meus hobbies e com o FilmeSP conecto as pessoas aos festivais de cinema que acontecem em SP mas que são dificilmente divulgados.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Back To Top