Sinopse
A família Kara é da Turquia, mas vive há muitos anos na Suíça. Abdullah, o pai, comanda os três filhos com pulso firme enquanto Emine, a mãe, tenta equilibrar a rigidez do marido com seu carinho pelas crianças. Os dois garotos mais velhos conseguem se adaptar facilmente às duas culturas, tanto a turca quanto a ocidental. Mas Burak, o caçula, não se sente pertencendo a nenhum desses dois mundos. Por isso, ele decide abdicar da cultura do Ocidente para se dedicar ao Alcorão. A princípio, os pais sentem orgulho e só percebem o extremismo dos ideais de Burak tarde demais, quando o jovem foge para lutar na guerra santa. Abdullah, então, parte até a fronteira entre a Turquia e a Síria para procurar o filho.
“Al-Shafaq: Quando o Céu se Divide” – Dirigido e roteirizado por Esen Isik, com fotografia de Gabriel Sandru, montagem de Aurora Vögeli e Música de Marcel Vaid.
A família de Abdullah Kara sente orgulho quando o filho mais novo começa a se dedicar aos estudos do Alcorão, porém, o jovem acaba se envolvendo com extremistas e foge para lutar na Guerra Santa. Enquanto na Turquia, Malik é separado de seus pais junto com seu irmão mais velho que acabam partindo para um campo de refugiados. Nesta história, vemos como a fé pode ser perigosa se levada ao extremo ou calmante quando usada com aqueles amam. Devo dizer que a cena de Malik rezando com sua família foi uma das mais bonitas que já representadas.
Não é de hoje que vemos filmes que brincam entre o passado e o presente para juntar duas histórias aparentemente distantes entre si, em “Al-Shafaq: Quando o Céu se Divide” vemos este artifício ser utilizado ao cruzar a história do jovem Malik (Ahmed Kour Abdo) que teve seu irmão Berdan (Robin Arslan) morto em um campo de refugiados na Turquia, e a família de família de Abdullah Kara (Kida Khodr Ramadan) que vive na Suíça.
Ambos possuem seus próprios conflitos, um com o filho rebelde e o outro que foi distanciado da família por conta de extremistas e agora está sozinho após a morte de seu irmão, e seus conflitos têm como ponto de partida a religião que aqui representa as duas faces da mesma moeda.
Abdullah vive com sua esposa e três filhos na Suíça, sua viva se resume a trabalhar e a ir a mesquita, se vê em uma relação tempestuosa com seu filho mais novo Burak (Ismail Can Metin) que não está cumprindo com as obrigações religiosas corretamente. Com o passar do tempo, vemos que Burak começa a se encontrar com homens mais velhos na religião que o fazem a entrar de cabeça na causa da Guerra Santa, o recrutando para uma célula terrorista. Tudo isso ocorre sem que Abdullah ou sua esposa notem até que seja tarde demais.
O filme foi bem dirigido e desenvolvido, vemos através de cortes a história se desenrolar em praticamente três linhas diferentes e não ficamos com dúvidas sobre o que estamos vendo, este filme no quesito técnico com certeza é uma ótima escolha para se ver enquanto busca pelos diversos no catálogo da mostra.
O roteiro se utiliza de velhos clichês, ignorando furos a fim de passar um tom dramático mas por ser tão manipulativo pode não atingir seu objetivo. Vemos uma família cuja falta de comunicação chega a ponto do irmão mais velho e que compreendo os perigos do extremismo descobrir sobre o recrutamento do irmão mais novo e não falar nada além de um vago “o que você pensa que está fazendo?”. Do outro lado da linha vemos a briga supérflua de irmãos somente para nos aprontar para a morte do mais velho. Clichês são bons quando bem utilizados, aqui, só deixaram o filme em um lugar comum ao invés de enaltecê-lo.
Apesar de ter um problema em seu roteiro, “Al-Shafaq: Quando o Céu se Divide” não é um filme de se deixar de lado nesta Mostra.