Sinopse
Após terminar um relacionamento com um homem casado, Xian Tian decide transferir seu emprego e voltar à sua cidade natal, para cuidar do pai, que sofre de Alzheimer. A moça acredita que sua presença possa ser um conforto para os pais nesse momento. O cotidiano da família, porém, é estremecido quando a doença atinge um estágio avançado, ao mesmo tempo em que Xian Tian começa um novo relacionamento amoroso.
“Apenas Mortais” é integrante da Competição de Novos Diretores, Liu Ze nos apresenta este filme sensível sobre o relacionamento de uma família que precisa passar pelo pesado momento em que um dos membro é diagnosticado com Alzheimer. Sem cair no dramalhão ou saídas fáceis, vemos em tela um filme que aborda a relação familiar da familiia de Xian Tian.
Com roteiro realista, o filme não tem medo de mostrar os altos e baixos que acontece não somente com aquele que é diagnosticado com esta doença mas também em sua família. O filme foge do clichê da filha que abandona tudo para ajudar os pais, vemos que Xian Tian não sente que deve como obrigação cuidar de seu pai e ao mesmo tempo em que ajuda em casa, ela também tem sua vida particular encontrando até um novo namorado que a ajuda sem pedir nada em troca.
“Apenas Mortais” consegue ainda mostrar um pouco sobre a história do país durante seu único flashback e cultura chinesa de forma cotidiana onde aprendemos sobre o relacionamento das pessoas em uma sociedade ainda fechada. A exposição das informações foram feitas de forma sutil que deixa difícil de notar que este é o primeiro filme de Liu Ze que escolheu o minimalismo ao expor em objetos em cena ou olhares dados entre os atores os sentimentos sem necessidade de falas.
O foco da narração gira em torno do pai doente e sua esposa que cuida dele, após anos casados agora ela tem de carregar a dor de perder aquele que ama a cada dia que passa e se tornar uma estranha dentro de casa, já Xian Tian por ser mais nova acaba recebendo o título de mãe, algo comum após certa fase do avanço da doença. A mãe se ocupa de nos dar os maiores pontos de drama deste filme em uma atuação contida e explosiva ao mesmo tempo, impossível não se emocionar.
Enquanto Xian Tian se mostra como alguém se está sendo levada pela vida, sem agir mas sem se esquecer de quem é, passando pelos próprios problemas ela encaram seu cotidiano quase que de forma fria até seu ultimo momento em cena onde em um único olhar podemos notar que agora, ela conseguiu respirar.
Com personagens de fácil reconhecimento, “Apenas Mortais” nos mostra uma família onde os filhos mais velhos saem de casa e a vida os leva para caminhos diferente, Xian Tian por não ser casada e na casa dos 30 anos volta humilhada para a casa da mãe, enquanto a irmã mais nova mora longe dos pais e não pode ajudar fisicamente. Não existem vilões ou personagens caricatos, o roteiro preza pela naturalidade que a vida trás.
O filme se passa em um período de um mês mais ou menos, porém, essa mudança temporal acaba não sendo notada deixam o ar de rapidez e atropelamento de situações para aqueles que não prestarem muita atenção nas conversas de nossa protagonista com sua amiga recém casada.
O filme lembra também a ópera chinesa sobre tragédias, conforme a doença avança os figurantes passam a integrar o mundo de Xian Tian respondendo coletivamente as situações, não por menos, Xian Tian é uma dançaria da ópera chinesa e sua vida se mistura a de uma frágil e perdida mocinha cujo o final é trágico. Clara que isso não chega a acontecer, mas a catarse da perda de um familiar inicia uma sucessão de sentimentos que só podem ser sentidos após um determinado final do qual, todos teremos.
“Apenas Mortais” é um dos filmes que merecem serem assistidos nesta Mostra.
