[44° Mostra SP] Nova Ordem (Nuevo Orden)

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Sinopse

Enquanto a Cidade do México ferve com protestos, em um bairro chique, um casamento luxuoso da elite mexicana dá errado. Uma revolta inesperada abre caminho para um violento golpe de Estado. Visto pelos olhos de Marian, a jovem e simpática noiva, e dos criados que trabalham para —–e contra— sua família rica, o filme mostra o colapso de um sistema político, enquanto ele é substituído por algo ainda mais angustiante. Nessa nova ordem, tanto ricos quanto pobres são aprisionados por uma lógica militar, onde os mais ricos financiam involuntariamente sua própria perda de poder.

“Nova Ordem” do diretor Michel Franco foi vencedor do Leão de Prata e do Leoncino d’Oro Agiscuola do Festival de Veneza. O filme também foi exibido nos festivais de San Sebastián e de Toronto e agora chega na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo sendo exibido para todo o Brasil. Conta com Naian González Norvind, Diego Boneta, Mónica del Carmen, Fernando Cuautle, Eligio Meléndez e Darío Yazbek no elenco.

 

→ O filme possui cenas de mortes, tortura e uma de estupro, não sendo indicado para aqueles que possam ter gatilhos. ←

Crítica

Violento, em certos momentos perturbador e necessário, o filme se passa em uma época não informada comunicando-se perfeitamente com qualquer país e história das Américas ao expor o abismo existente entre as classes sociais onde a classe dominante usa e abusa de seus poderes. Essa desigualdade cria um ambiente no qual já se torna impossível a convivência e protestos violentos iniciam em diversas partes da cidade afetando a vida de todos, independente da classe social.

Neste momento de explosão de protestos violentos, uma família rica realiza um casamento ignorando de forma proposital o perigo que assola seu país e que está cada vez mais perto deles. Pequenas demonstrações do perigo a vir são vistos de forma banal por aqueles que acreditam estarem acima da lei e continuam recebendo suas propinas enquanto os empregados devem trabalhar sem reclamar. A ignorância da classe rica e relação ao seus empregados chega a invadir os limites da privacidade com a dona da casa olhando as bolsas de seus trabalhadores procurando por tinta verde sem informa-los sobre a inspeção acreditando que é seu direito.

Enquanto vemos um casamento animado sabemos que há também manifestantes feridos sendo levados aos hospitais fazendo com que os doentes precisam dar seus leitos a eles, entre os doentes se encontra Elisa que precisa realizar uma cirurgia mas por não dispor da quantia ela é mandada de volta para casa junto ao seu marido. Sem outra escolha, o marido de Elisa vai até a casa de seus antigos patrões para quem trabalhou por mais de oito anos pedir ajuda e lá só encontra olhares de desprezo. Somente Marian, a noiva, tenta ajuda-lo mas quando nota que ele já se foi da casa de mãos abanando ela resolve ir até a parte da cidade onde ele mora para tentar fazer algo.

Marian se torna aqui uma espécie de “heroína” no filme onde já notamos que ela será responsável pela manipulação de sentimentos do espectador e nossos olhos através da revolução. A construção dos personagens foi feita de forma básica quase chegando ao raso: o rico que não se importa com os outros, o pobre cuja a bondade beira quase a uma inocência ilusória, e os milicianos que estão lá somente pelo dinheiro como um antagonista de animação dos anos oitenta cuja a ambição era somente a dominação mundial sem um porque real. O filme não passa em nenhum momento sobre o porquê da revolução, o que a população demanda e o que farão ao conseguir a revolução, ela simplesmente existe e está acontecendo.

“Nova Ordem” consegue manipular seu espectador durante o primeiro ato utilizando principalmente cortes rápidos entre ações e conversas banais dos convidados e empregados, e o som que anuncia gradativamente o perigo que está chegando as portas da mansão. O imediatismo é sentido a cada minuto a partir da saída da noiva da casa, com pilhas de mortos e pichações de “Morte aos Ricos” lembramos facilmente de filmes como “Parasita” e o “Filhos da Esperança”.

Porém, diferente dos filmes do qual ele pode ter ou não se inspirado, “Nova Ordem” nos mostra o que acontece durante e após o processo da revolução. Vemos a formação de milicias que estão conectadas aos militares, vemos que a corrupção continua e vemos que nada mudou no dia a dia dos mais ricos que agora se fecham em condomínios altamente protegidos obrigando seus empregados de conseguirem permissões “legais” para poder entrar. Deixo aqui minha cena favorita da dona de uma das casas delegando tarefas para uma enfermeira, mostrando assim que pouco mudou na sua vida mesmo após as mortes ocorridas em um mês durante o casamento de sua filha, agora desaparecida.

O que o filme peca na construção do personagem ele compensa na utilização de lentes que conseguem trazer o sentimento de clausura ha ambientes abertos e o contrário também, sabemos que os personagens ricos estão em celas grandes pelo número de pessoas dentro, porém, a câmera nunca sai de cima de nossa protagonista, aumentando o sentimento de submissão. Ultimamente vemos um aumento do uso do celular para nos ambientar do que está acontecendo, acredito que dentro de um ano talvez ver um vídeo no celular dentro do filme não tenha a estranheza ou a aparência de falso como ainda fica.

“Nova Ordem” é um filme que possui uma visão realista de uma revolução social sem ordem ou líder onde no final o fascismo vence. Digo sem ordem ou líder pois em nenhum momento somos informados do que está realmente acontecendo, o diretor optou a mostrar somente a violência chegando a ser gratuito em certos momentos por não possuírem uma continuação lógica, talvez ai seja algum tipo de problema do continuista mas de qualquer forma o espectador não deveria se pegar no meio de um filme que se diz transformador pensando em “porque x aconteceu e agora y continua normal como se fosse uma segunda-feira qualquer?”.

Com alguns problemas de continuidade eu ainda assim indicio para aqueles que queiram estudar um pouco sobre luta de classes ou ter visualmente uma pincelada do livro “Revolução dos Bichos”.

Carateca, amante de cinema, revisora e tradutora de inglês e italiano. Amo como minha profissão me conecta aos meus hobbies e com o FilmeSP conecto as pessoas aos festivais de cinema que acontecem em SP mas que são dificilmente divulgados.

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