Lidando com a Morte (Dealing with Death), 2020, 74 minutos
Direção e roteiro de Paul Sin Nam Rigter. Vencedor do prêmio de melhor documentário holandês no IDFA
Visto durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo durante a Competição Novos Diretores
Sinopse
Em Bijlmer, bairro multiétnico de Amsterdã, cada cultura tem seus próprios rituais relacionados à morte. Anita gerencia uma agência funerária e precisa garantir que essas práticas e cerimônias sejam respeitadas. No entanto, quanto mais se aprofunda nesse universo, mais ela percebe o quão pouco sabe sobre as diferentes culturas locais. Anita, então, passa a se questionar se a casa funerária, que reúne essa diversidade cultural sob o mesmo teto, atende às necessidades do bairro ou é apenas um empreendimento que espera conquistar espaço nesse mercado.
Crítica de “Lidando com a Morte”
Cada cultura tem seus ritos de velório e que muitas vezes, por conta da religião predominante no local, acabam se tornando padronizados obrigada parentes e amigos do falecido a aceitarem o que lhes foi entregue. Isso é uma falha da sociedade que nega a aceitar a sua pluralidade e a partir desse conhecimento uma empresa de Amsterdã em Zuidoost cria um centro para que diversas culturas possam celebrar o ritual na sua maneira.
O documentário mostra este o projeto de uma funerária desde as entrevistas iniciais, encontros com autoridades religiosas e início das obras do local, cabeceado por Anita van Loon que é a responsável por mapear todas essas necessidades em nome da empresa Yarden. Mas construir a primeira casa funerária multicultural acaba caindo o bom e velho golpe da empresa que muda de interesse no meio do caminho, durante o documentário de Paul Sin Nam Rigter descobrimos que houve um atrasado de 2 anos onde a única mudança foi a retirada de uma placa de um local ao outro.
A ideia é bem interessante, porém seu desenvolvimento não satisfaz, sem grandes novidades na exposição de informações nós acabamos vendo só mais um documentário que mostra o superficial do que propôs. Quando estamos chegando no meio do documentário ele dá uma virada ao mostrar um pouco do drama particular de Anita que lida com um pai doente e próximo do falecimento e suas conversas com a irmã em relação a sua própria morte, porém mesmo nestes momentos vemos com uma distância que lembra documentários informativos e não expositivo como prometido.
A investigação de 74 minutos expõe alguns dos problemas que a comunidade de ganeses, surinamenses e hinduístas enfrentam em seus ritos por conta de tecnicidades da sociedade cristã durante os velórios, para compreender as necessidades destas comunidades Anita realiza entrevistas e participa de velórios “montados” para que entenda melhor seus clientes.
Mesmo se perdendo em determinados momentos, o documentário consegue exibir dois velórios onde vemos como a comunidade se ajuda com a locomoção do corpo e com aluguel de espaços para a celebração da vida do ente querido. O pai de Anita falece durante as filmagens e foi feito a escolha de montagem para mostrar o paralelo entre os funerais ganeses e holandeses, uma escolha precisa
“Lidando com a Morte” de Paul Sin Nam Rigter perde a força ao focar no drama particular de Anita e falha ao tentar mascarar a xenofobia da empresa em relação as pessoas de outras culturas, mesmo que em uma sociedade “que está evoluindo” tentar esconder essa parte no documentário, mas deixar passar comentários em tom de brincadeira não deve passar em branco. O sentimentalismo em relação a pessoa de estudo e depois a mudança abrupta para apresentar a falta de interesse real da empresa foram uma escolha um tanto estranha mas ok, afinal, não estamos aqui para dizer como fazer um filme e sim falar sobre o filme nos entregue.
No final, o sentimentalismo voltado a uma pessoa que representa uma empresa e o apagamento da continuidade da exposição dos ritos fez com que este documentário se torne um filme, segundo nossa opinião obviamente, que pode ser visto em outra oportunidade e não nessa 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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