[45° Mostra SP] Armugan

Filmesp_critica_45_mostraSP_Armugan

Armugan, 2020, 90 minutos
Direção e roteiro de Jo Sol, fotografia de Daniel Vergara

Visto durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo durante a Perspectiva Internacional

Sinopse

Em um vale isolado nos Pirineus Aragoneses, a lenda de Armugan faz parte do imaginário local. Ela conta que Armugan se dedica a uma profissão terrível e misteriosa que ninguém se atreve a nomear. Dizem ainda que Armugan se move pelos vales agarrado ao corpo de Anchel, seu fiel servo, e, juntos, compartilham o segredo de um trabalho tão antigo quanto a vida, tão terrível quanto a própria morte.

Crítica de Arguman

→ Assista com fones de ouvir para ter uma melhor experiência ←

Poético e filosófico, Arguman nos leva em uma jornada onde palavras são usadas somente quando necessário. Por um longo período somos transportados para o seu mundo, acompanhando o personagem que dá nome ao filme, vivido por Íñigo Martínez e por seu cuidador Anchel, interpretado por Gonzalo Cunill, que o carrega nas costas.

Lidando com o questionamento sobre vida e morte, o primeiro ato do filme foca somente o ofício de Arguman que é dar a última paz para os idosos, ele é um doula dos últimos dias das pessoas e seu trabalho é feito com todo o respeito que as pessoas precisam, não cobra dinheiro pelo trabalho e sempre está com seu cuidador Anchel que depois de trabalhar com paciente paliativos agora vê seu novo trabalhando ajudando Arguman a dar paz para as pessoas necessitadas.

A relação entre Anchel e Arguman é de respeito e admiração, visualmente ambos representam a vida e a morte e suas ações demonstram isso, Arguman sempre olhando para longe como quem sabe de um segredo – segredo que se desfaz no final – e Anche só (re)agindo ao que lhe deve sem questionar. Por muito tempo ficamos no silêncio destes dois homens vendo e escutando com detalhes cada ação, quando somos então deparados com uma estranha que aparece em seus chalé e muda a sintonia deles, agora somos bombardeados não só por diálogos mas também pela música se mais eletrônica conforme Anche se questiona e questiona seu amigo Arguman.

A fotografia do filme é deslumbrante, cada cena leva seu tempo necessário para captar cada detalhe sem se alongar, Daniel Vergara faz um belíssimo trabalho em preto e branco passando uma sensação efêmera que junto com o design do som do filme o deixa algo gostoso de se ver dando uma melancolia que é bem-vinda. Estes estímulos conseguem prender a atenção do expectador sem precisar de grandes gestos ou estouros teatrais, os trabalhos dos atores do primeiro minuto em tela até o seu final usando de olhares ou respirações profundas são o suficiente para passar grandes mensagens. Foi um ótimo trabalho.

Com um existencialismo poético, o filme consegue criar diálogos sobre vida, morte, cuidados paliativos, eutanásia e consentimento de forma complexa sem se perder em seus simbolismos. “Arguman” é um filme que não se deve deixar passar nessa 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Veja mais:
Mais informações sobre a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Carateca, amante de cinema, revisora e tradutora de inglês e italiano. Amo como minha profissão me conecta aos meus hobbies e com o FilmeSP conecto as pessoas aos festivais de cinema que acontecem em SP mas que são dificilmente divulgados.
Back To Top